Gênesis
3:11-13 “E Deus disse: Quem te mostrou
que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses? Então
disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e
comi. E disse o SENHOR Deus à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A
serpente me enganou, e eu comi. ”
O erro é inato do homem, ele foi inserido no caráter
humano na queda, pelo pecado. Desde o início observamos que o homem perdeu sua
capacidade de assumir seus erros; diriam muitos, quando na verdade o homem não
perdeu sua capacidade, ele começa a apresentar as consequências do pecado em
sua vida. Alguém dirá, a primeira
consequência é saber que está nu, outro que o homem morreria. Não podemos negar
que atribuir culpa de seus erros a outrem, é uma das primeiras consequências,
senão a primeira, as demais, vieram após o diálogo de Deus com o homem.
“…estavas nu? ”
A nudez do homem e da mulher não se dava apenas em sentido literal, pela
completa ausência de roupas ou cobertura para o corpo, também era de alma, nada
tinham a esconder um do outro, eram explícitos, o homem diante de sua mulher e vice-versa,
e ambos diante de Deus. Aliás, diante de Deus continuamos nus, explícitos, nada
podemos esconder aos seus olhos. Davi no salmo 139 nos deixa isso claro, “...se vou para o mais profundo abismo, lá
estás...” não ficamos isentos da presença de Deus, estamos sob seus olhos
constantemente, nada do que eu ou você façamos ficará oculto. Pois o Senhor
conhece nosso coração e os meandros da nossa mente, até as palavras que ainda
serão escritas ou faladas. Não se engane, você está exposto diante de Deus.
Alguém então perguntará, se somos explícitos diante de
Deus. Deus viu que a mulher assim como homem comeram do fruto? A resposta é
sim, ele viu, sabia o que havia acontecido, mas queria saber da boca do homem o
que este havia feito. Bem como da mulher. Acredito que Deus esperava algo do
tipo “Senhor, eu errei, fiz o que era
mau, a mulher me disse que o fruto era bom e eu comi, a decisão de comer foi
minha”. E da mulher “A serpente me
iludiu, e eu comi, por decisão própria”. Essa seria a atitude correta. No
entanto o que tanto o homem quanto a mulher assumem é que comeram, mas a
responsabilidade pelo ato de desobediência é atribuída a outrem. A mulher
atribui a serpente, e o homem por sua vez, atribui culpa a mulher, e
menosprezando-a tenta tornar Deus culpado, quando diz “…a mulher que me deste…”. Como assim? Agora ela não é mais “…carne da minha carne, e osso dos meus
ossos…”, deixou de ser “…tomada do
varão” (Gen. 2.23)?
Esse é um dos grandes problemas da humanidade, não
assumir seus erros, não assumir o que não nos agrada. Esse homem, é o primeiro
que revela algo que é latente em todos nós, se é bom, está de acordo com nossos
valores e princípios então é nosso, senão não. O homem, rejeitou a mulher como
sua carne. Aquela que Deus tinha feito a partir de uma costela. Não é diferente
do que muitas vezes fazemos, seja em caso de divórcio, ou mesmo no curso do
casamento, quando nos apossamos da célebre frase “O/a teu/tua filho (a)! ” Especialmente
quando este comete algum erro grave, não tem a aparência que gostaríamos ou o
comportamento que achamos ser o ideal.
Temos essa tendência de lançar a culpa sobre o outro. Não
assumir os erros, e isso além de machucar nossos pais, cônjuges, filhos e
líderes. Se algo não sai a contento e vai desagradar o outro, logo achamos um
culpado, quer seja um objeto, o tempo, as diversas atividades, os filhos, sim,
já vi muitas mães atribuírem a responsabilidade pelos seus atrasos e pelo seu
descaso com a família, aos filhos. Recentemente vi um programa de TV em que
mostrava uma casa em que a família mal tinha como andar dentro de casa, aquilo
não era um lar, pois não havia como estar bem dentro daquela casa. Ao ser
questionada, a resposta da esposa foi clara “como manter tudo em ordem com três
filhos? ”. Em outro momento ela disse que todas aquelas coisas estavam
amontoadas em sua casa para não desagradar familiares, e, pasmem, guardava por
medo de não encontrar mais aqueles objetos para compra-los. Mas a pérola da
culpa, foi atribuí-la à segurança futura.
Tal qual um algoz,
a culpa nos leva a fuga, seja de uma realidade, de um lugar, da família, ou
qualquer outra situação; quando não nos aprisiona em um silêncio perturbador,
em um casulo que limita todos os nossos relacionamentos. Lembro-me que há
poucos anos falava a uma pessoa com quem tinha um relacionamento, sobre a
dificuldade que ela tinha em se abrir se entregar para o relacionamento, devido
a tantas barreiras de vidro que estavam colocadas entre nós. Na verdade, essas
barreiras estavam ao redor dela. Ela agia e age como se vivesse em uma redoma
se protegendo de tudo e de todos. A impedindo de ser quem realmente ela é. Essa
é a realidade de muitos.
O que mais me impressiona é a forma como tratamos a
culpa, que muitas vezes a assumimos achando que somos os responsáveis pelo
fracasso de um casamento, do divórcio dos pais, ou mesmo, e, nesse caso, da
pior forma, pela violência sexual, a qual a pessoa é submetida. Não apenas os
profissionais cristãos dizem que a culpa daquela situação não é do agredido,
mas já vi profissionais, que professam outras crenças, ou as negam, dizerem
isso. Porém, essa culpa, a qual deve ser transferida, ao agressor, só se
transfere depois de muito tratamento, e na maioria das vezes quando a pessoa
tem um encontro verdadeiro com Cristo. Tal qual a samaritana.
A respeito de culpa, gosto de meditar em dois textos, o
da mulher samaritana, em João 4, e da mulher adultera, a forma como Jesus
aborda as duas situações, em primeiro lugar é peculiar, e exemplar. Com a
samaritana ele inicia uma conversa serena, que mostra uma necessidade
extremamente humana, sede, “…dá-me de beber!
” Apenas isso, nada mais, e um diálogo maravilhoso se inicia e que termina
em salvação e libertação de uma culpa terrível que assolava aquela mulher. A
adultera é um caso mais curioso ainda, pois os fariseus procuravam motivos para
acusar Jesus, pois o adúltero não estava ali jogado no meio da turba furiosa,
que já deveria estar com pedras nas mãos para apedrejar ambos, ela pelo
adultério e Ele por ter blasfemado e violado a lei de Moisés, ao condenar
apenas a mulher. No entanto Jesus, trata a questão com simplicidade, e dentro
de cada um, na consciência, “…quem não
tem pecado, que atire a primeira pedra! ” E o relato a seguir é de que
todos se retiraram um a um, até que ali ficou apenas Jesus e a mulher(João 8).
Creio que ela estava ali abaixada, de rosto em terra, talvez olhando para
Jesus, com tamanho terror nos olhos, pelo medo de ser por ele condenada. Mas
ninguém atirou pedras na mulher, e ela saiu dali com seu pecado perdoado e suas
culpas tiradas. Não há dúvida de que essas duas mulheres foram confrontadas com
suas culpas, as assumiram. A Bíblia não fala disso, mas creio que em seu íntimo
elas o fizeram, e por terem consciência de quem estava diante delas, mostraram
arrependimento, e por isso obtiveram perdão.
Outro grande problema é a forma como essa culpa é
tratada, por nós, como algo avassalador, destruidor, e para terceiros como
motivo para nos oprimir. Jesus nos dá o exemplo de como lidar com a culpa dos
outros. Ele que não tinha culpa alguma, que carregou nossas culpas e pecados
para a cruz, libertando-nos de ambos. Do contrário nossa vida seria
insuportável.
Se você tem algum tipo de culpa, procure a raiz dela,
pare de ficar se martirizando, isso não vai te levar a lugar algum. Assuma
aquilo que fizeste de errado, peça perdão a quem quer que seja, perdoe quem lhe
fez mal e livre-se disso, viva em paz. Mas você me dirá e aquela culpa que
carrego por imposição de outros, pais, agressores, violadores? Entregue-as nas
mãos de Jesus, abra seu coração diante dele. Siga o conselho de Jesus, “…entra no teu quarto, onde o Pai te vê, e em
segredo, …” entregue-as todas, confesse, e aceite o abraço acolhedor e
consolador do Espírito Santo.
Caso deseje conversar a respeito, procure pessoas
emocionalmente sadias, e que tenham sólido conhecimento da Palavra. Estamos
aqui para carregar as cargas uns dos outros, em obediência ao que Paulo nos
recomenda “…suportai-vos uns aos outros!
”. E nesse caso suportar é dar suporte, carregar, transportar, descer até o
chão e ajudar a se levantar, ombro a ombro, em um fraterno abraço.
Em Cristo.
Adinan
Luiz Kempa