sábado, 25 de junho de 2016

Os Dez Mandamentos parte 3 - Primeiro Mandamento

“Então falou Deus todas estas palavras, dizendo: Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. ” (Êxodo 20.1-3)
“A Natureza humana é uma fábrica de ídolos”
João Calvino

            Moisés está diante de Deus, no monte Sinai, já está ali há algum tempo, cerca de 35 ou 40 dias, e já havia cerca de seis meses em que o povo tinha saído do Egito, e visto todas as maravilhas que Deus havia feito, desde as pragas, a forma como  os egípcios, de forma deliberada, deram a eles ouro, prata, bronze, metais e pedras preciosas, bem como tudo que pediam lhes era dado, e cerca de alguns dias depois da última praga, viram o exército de Faraó ser dizimado, naquele que podemos dizer que é o primeiro massacre que um exército sofre, até então a história não registra outro feito de tamanha grandeza.
            Há discordância quanto ao efetivo total de Faraó naqueles dias, mas historiadores falam em um exército de cerca de 1.300.000 homens, os Hebreus contavam com cerca de 621.000, homens que puxavam da espada, sem contar mulheres, crianças e idosos, na conta das crianças entravam todos que tinham menos de 20 anos.
            Mesmo assim o Senhor reafirma sua identidade a Moisés, antes de começar a discorrer sobre a Sua lei. É bastante interessante notarmos que Deus se manifesta ao povo, e poderia ter recitado a Lei para que todo o povo ouvisse, porém quando Deus fala ao povo no capítulo 19, o povo teme e pede que apenas Moisés fale com Deus, para que não morram. A partir daí o povo passa a ouvir apenas trovões e relâmpagos, mas não ouve a voz de Deus com clareza. O que Deus tem a dizer para seu povo o faz através de Moisés e Arão. Uma prova disso é que alguns anos depois, quando Arão e Miriã se rebelam contra Moisés, Deus diz a eles “Mas não é assim com meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa; boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas…[i] Ou seja, a Lei foi dada ao povo através de Moisés, tornando-o o legislador de Israel. E o relato dos fatos e a Lei também chegou até nossos dias por causa dessa conversa pessoal de Deus com Moisés, sem testemunhas, porque o Senhor dá testemunho de si mesmo.
Não terás outros deuses diante de mim. (v.3)
            Ainda que os hebreus, que depois da partida do Egito se tornaram Israel, sejam descendência de Abraão, Isaque e Jacó, e que seus pais haviam deixado muitos ensinamentos a respeito de quem é Deus, podemos perceber que este povo clamava ao Senhor, numa busca desesperada pelo fim da escravidão a que estavam submetidos. Porém suas atitudes no deserto, antes de chegar ao Sinai, demonstram que não era um povo que conhecia e vivia de acordo com os preceitos do Senhor, havia, é claro exceções, como a família de Moisés, de Josué, Calebe e de mais alguns outros,
            A subserviência da escravidão tende a nos fazer dobrar diante de qualquer coisa que possa trazer algum alívio para o sofrimento, ainda que passageiro. Assim, acredito, que muitos hebreus se dobravam e adoravam aos deuses egípcios, e mesmo adotavam algumas práticas do culto aos deuses e ao faraó, numa tentativa desesperada de se livrar da escravidão.
            Uma leitura mais apurada do livro de Êxodo, pode nos revelar o perfil do povo, que, ao que parece, não tinha tanta certeza de que era um povo eleito, escolhido para ser uma nação, e que havia uma promessa de que eles sairiam dali para uma terra que mana leite e mel. Essa consciência, parece estar se apagando, ou ainda resta como uma tênue chama em uma lamparina, que mal consegue iluminar a si mesma.
            Você pode estar se perguntando, porque estou falando dessas coisas? Estou falando porque são nesses detalhes que nos esquecemos de quem é Deus, e quem nós somos. Que podemos nos acostumar facilmente com um culto fraco, que a inclusão de elementos de outros cultos ao nosso culto não fará mal algum, que o sincretismo pode nos tirar da dor e do sofrimento da perseguição.
            Antes de prosseguir vamos deixar claro que somos livres, não precisamos de nada disso para que nosso culto seja verdadeiro, singular e recebido por Deus.
            O pragmatismo e o experiencialismo reinante nos dias de hoje, facilmente nos fazem esquecer de Deus, quando então colocamos qualquer coisa em nossa vida. Vivemos dias de imediatismo, em que tudo é para ontem, não sabemos mais esperar, confiar então, nem pensar. Estamos muito mais preocupados com o que os outros veem do que com o que Deus vê e pensa sobre nós.
            A natureza humana é caída, o pecado é inato do homem, assim como a sua busca por contato com um ser superior, com algo que lhe de um relacionamento sobrenatural, ainda que seja consigo mesmo. Qualquer situação que nos coloque em evidência tende a inflar o ego de tal forma que logo começamos a achar que somos mesmo tão bons, bonitos, inteligentes, quanto nos falam, mas quando a realidade vem à tona, ficamos aborrecidos, irritados, depressivos, até rompemos amizades e relações com familiares por conta disso. A exigência de capacitação, de ter um carro, uma casa, uma saúde e família perfeitas, um corpo esculpido por horas e horas de academia, para que sejamos notados. Tudo isso faz com que Deus seja o último em nossa vida.
            Altares começam a aparecer em nossa vida. Começam pequenos, e crescem, até se tornarem nosso chão. Lembro-me de uma passagem do livro “O Pequeno Príncipe”, que em seu pequeno planeta que cortava os baobás assim que estes nasciam, não os deixava crescer, senão tomariam conta do planeta e seria quase impossível elimina-los, na verdade estes tomariam conta do planeta. Cita o autor, que fez um desenho, orientado pelo principezinho, de um planeta em que o seu habitante, preguiçoso havia deixado crescer três baobás, imaginem a cena[ii].
Assim, é na nossa vida os altares são pequenos, tímidos, mas crescem, se tornam frondosos, visíveis, e perigosos, pois a partir desse ponto são o nosso chão, transitamos de um altar para outro com tanta facilidade que esquecemos que eles estão crescendo. E aqueles que estão mais fracos, alimentamos mais, alguns nós construímos com materiais considerados indestrutíveis. Estes altares crescem de tal forma que nos escondem, não nos deixam mais olhar para o Senhor. Deus é só mais um dos altares que está perdido entre os milhares de nossa vida. Quanto mais alto for esse altar maior será nossa queda.
Entretanto, o único do qual não caímos é o do Senhor, pois diante dele apenas nos dobramos e reconhecemos nossa insuficiência. De forma a adorá-lo em espírito e em verdade.
            Hoje nossos deuses não são mais os mesmos que os hebreus adoravam, raramente cristãos tem ídolos do lar, mas tem em seus corações. Tenho observado que o pragmatismo tem feito do trabalho, do dinheiro, da posição social, de qualquer situação ou objeto que nos coloque em evidência um deus. E tudo isso por falta de conhecimento da Palavra, de um ensino de falsos profetas, que prometem o que Deus não prometeu, falam do que o Senhor não falou na Bíblia. Cuidado são sementes de altares, sobre os quais você estará para ser adorado.
            Há ainda o experiencialismo, em que somos levados a viver a experiência de outros, obrigados a ser como este ou aquele pastor é, age, um determinado autor, com suas experiências. Muitas vezes querem nos obrigar a viver as experiências que foram vividas por outras pessoas, que devem ser únicas, servem de exemplo para nós, apenas isso.
            Há alguns anos, em um culto o Pastor de uma igreja em que eu estava, disse que a diferença entre a música que se canta hoje e a de alguns anos atrás, é a santidade. Muitos estão cantando qualquer coisa, só com o nome de Jesus, para vender para os crentes. Nada além disso.
            Fato exposto é inegável que temos nossos ídolos, colocamos antes de Deus qualquer situação, objeto ou circunstancia de nossa vida. Preocupações do dia a dia, o mais preocupante de tudo isso é a forma como o dinheiro tem sido colocado diante de Deus.
            Certa vez ouvi que tudo o que nos traz irritação, tristeza, preocupação e ansiedade, é nosso ídolo, e está adiante de Deus. Pois essa é uma verdade. Até mesmo nosso comportamento, nossas atitudes na igreja, nos cultos, pode ser um deus, um altar.
            Cuidado meu irmão, há altares que te impedem de se achegar a Deus, que você mesmo poderá tirar, mas há altares que só Deus tirará, avalie sua vida, analise, veja se há algo entre você e Deus. Até mesmo seu comportamento pode estar entre você e Deus, cuidado com os exageros. Paulo nos recomenda um culto com decência e ordem.
            Para os que estão à frente da igreja, há de se tomar mais cuidado ainda, pois há a tendência de usar de artifícios psicológicos, para levar a igreja a experiências emotivas, que na maioria das vezes, senão em todas, estão desprovidas de qualquer presença do Espírito Santo.
            Jesus atraia as pessoas porque era diferente, e tudo o que fazia, era diferente, mas transformava as pessoas, era atraente, esse deve ser nosso cuidado e nosso agir, ser diferentes, nem que para isso seja necessário abrir mão de tudo, para agir com simplicidade e singeleza de coração.
            Olhe bem ao seu redor, veja o que está diante de Deus. Diante do que tens se dobrado a orar, olhe para baixo e veja se não está em cima de um altar, se estiver desça, é menos dolorido do que quando Deus o derruba. Para exemplificar, imagine um bloco de vidro e duas marretas batendo ao mesmo tempo uma de cada lado na mesma altura. Imaginou? Agora pense, e se eu estivesse sobre esse bloco? Esse bloco pode ser o seu altar, onde você se colocou e se adora, ele é de vidro ou de cristal, não importa, o que importa é que por ser translucido, você quase não o vê, mas Deus vê, e vai derruba-lo. Não será nada bom cair sobre vidro estilhaçado, pior ainda será a dor que sentirá quando Deus começar a tratar tuas feridas; mas pode ter certeza, o resultado será maravilhoso.
            Sempre devemos ter o cuidado para não começarmos a reerguer esse altar, pois qualquer pedacinho que ficar, começa a crescer, e nos tentará a subir nele. Lembre-se do baobá, uma árvore frondosa, mas que tomava conta de todo o planeta, por isso era preciso ser arrancado pela raiz tão logo brotasse.
            Que o amor de Cristo, e as misericórdias de Deus, façam essas palavras entrarem fundo em nosso coração. No próximo artigo trataremos do segundo mandamento, e o que acontece em nossa vida quando fabricamos ídolos.
Em Cristo






[i] Números 12.6-8
[ii] Saint Exupéry, Antoine; O Pequeno Príncipe, Cap. V.

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